Após uma negociação coletiva com altos e baixos durante os últimos cinco meses, a Federação dos Trabalhadores da Construção Civil do Peru (FTCCP) conseguiu aumentos salariais para os trabalhadores peruanos no regime especial de trabalho da construção civil através de uma mobilização em massa nos canteiros de obras e nas ruas.
Em abril, os trabalhadores mobilizaram-se em todo o Peru para apresentar o seu Projeto de Convenção Coletiva 2023-2024 para o Setor da Construção, aprovado na sua Assembleia Nacional de Delegados.
Em Lima, capital peruana, os trabalhadores mobilizaram-se em direcção ao Ministério do Trabalho, onde na presença de milhares de trabalhadores o próprio Ministro do Trabalho recebeu o respectivo documento das mãos da direcção sindical.
O Ministério enviou este documento à Câmara Peruana de Construção (Capeco), representante da comunidade empresarial do setor, e posteriormente foi estabelecido tratamento direto em 6 de julho entre as comissões da Capeco e da FTCCP com reuniões alternadas nas instalações de ambas as instituições.
Porém, após sete reuniões, onde os trabalhadores exigiram um aumento superior a 7,99%, que é a taxa de inflação acumulada no período de negociação (1 de junho de 2022 a 31 de maio de 2023), a comissão negociadora da Capeco rompeu o tratamento direto em 9 de agosto, quebrando assim 20 anos ininterruptos de solução pacífica e tratamento direto das reivindicações dos trabalhadores. Foi nesta altura que, numa assembleia extraordinária, a FTCCP concordou em iniciar uma campanha de sensibilização através de protestos pacíficos em estaleiros de construção em todo o país.
Os dirigentes da secretaria executiva visitaram diversas regiões onde os trabalhadores realizaram manifestações e gravaram vídeos exigindo “Aumentar sim, migalhas não!”, que foram distribuídos nas redes sociais dos trabalhadores, dos sindicatos e da Federação.
Da mesma forma, foram colocadas faixas nas principais avenidas e diante dos meios de comunicação, bem como piquetes operários em ruas importantes. Como o acordo direto foi quebrado, por lei o Ministério do Trabalho poderia atuar como conciliador entre as partes.
No entanto, a estratégia da Federação não se baseou apenas em seguir o caminho da conciliação com o Ministério, mas também priorizou a retomada do tratamento direto, sem deixar de mobilizar, e recorrer aos meios de comunicação para apresentar a posição dos trabalhadores.
O contexto era difícil. Por parte dos empresários, o principal ponto forte da sua posição é a queda de quase 7,5% no setor da construção até agora neste ano, principalmente devido à falta de execução de obras nos três níveis de governo: nacional, regional e local. Ou seja, há dinheiro para investir, mas milhares de milhões de soles estão estagnados devido à ineficiência das autoridades governamentais.
Mesmo assim, foram feitos esforços diplomáticos, enviando duas cartas à Capeco para retomar o tratamento direto. Na qualidade de secretário-geral da FTCCP, Luis Villanueva Carbajal dirigiu uma carta ao presidente da Capeco, Jorge Zapata, que não faz parte da comissão negociadora da sua instituição, e que respondeu argumentando que a comissão cumpriu o mandato do seu associados, que eles colocam um limite nos aumentos salariais.
Em seguida, o nosso secretário-geral solicitou ao presidente da Capeco que convocasse uma reunião de associados para envidar os esforços necessários para a retomada do diálogo. Enquanto isso, a campanha de agitação e propaganda continuava. Para o dia 5 de setembro estava marcada uma mobilização nacional que mobilizou 220 mil trabalhadores em todo o país e quase 10 mil na capital, Lima, que culminou com um comício em frente ao Ministério do Trabalho. O acordo dos trabalhadores era que se uma solução aceitável para as especificações não fosse alcançada, então a greve ficaria pendente como próxima medida de força.
Durante esta fase do processo, foram realizadas mais três reuniões entre a FTCCP e a Capeco, que deram frutos. Fruto desta estratégia diplomática, mediática e de mobilização de massas nos estaleiros e nas ruas, a FTCCP conseguiu fechar a negociação colectiva com aumentos do salário base que ultrapassam os 5%, o que no início era impensável, e num contexto político marcado pela ineficiência, uma nova mudança de gabinete ministerial e uma recessão com aumento dos preços dos produtos essenciais.
Esta negociação tem sido difícil. No entanto, face à adversidade, a campanha nacional de agitação e propaganda das bases representou uma oportunidade para a Federação mobilizar os trabalhadores e uma renovação da mística da classe trabalhadora baseada nas nossas necessidades conjuntas.
A negociação coletiva no setor da construção no Peru tem um aspecto inusitado neste tipo de negociação: empresários e trabalhadores também apresentam na ata nossa reivindicação conjunta ao governo para a reativação de obras, execução de novas obras de infraestrutura, combate efetivo ao crime organizado e assassinos infiltrados em obras, entre outras reivindicações conjuntas para a promoção da construção civil no Peru.
Na sexta-feira, 8 de setembro, foi assinado o acordo coletivo definitivo do setor da construção 2023-2024 com os novos salários e gratificações. Assim, foi alcançado um aumento no salário básico (diário) de S/ 4,20 para o operador, S/ 3,30 para o oficial e S/ 3,00 para o operário.
Como o salário base redunda em outros direitos salariais, o aumento real é maior. Também foi possível aumentar o bônus de alta especialização (BAE) de 15% para 17% do salário base para o operador eletromecânico e de 18% para 20% para o operador soldador homologado 6G.
Por último, e o que é considerado um marco neste tipo de negociações, foi acordada a criação de um fundo para a formação de trabalhadores, cujo financiamento é assumido pelos empregadores de S/ 0,20 por cada trabalhador por dia trabalhado.
A mobilização dos trabalhadores, porém, não terminou. Uma vez resolvida a lista de reivindicações, temos uma nova mobilização na agenda para exigir a reativação da construção, especialmente a execução dos orçamentos atribuídos e a criação de novos e grandes projetos de infraestrutura para fechar a lacuna da construção civil no Peru.